15.04.25
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15.04.25
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31.03.25
Não discuto qual, em rigor, pode ser o tratado mais antigo e tal - quando acabam? Que outros anteriores já não vigoram? Mas entre Portugal e Inglaterra (ou todo o Reino Unido), o que há agora não é a mesma coisa.
Pois, dizia que não existe, é uma memória de outros tempos. O tratado de Windsor de 1386 dizia que havia liberdade de comércio e circulação entre as pessoas no outro território como se fossem seus naturais. Desde o "brexit" é preciso visto e passaporte, portanto, qualquer resquício desses acordos medievais são fantasias, ou antes, intrujices.
Mas, também, se vagueia na imprecisão, quando se esquece que houve tratados anteriores e que aquele que consistiu num primeiro acordo efectivo de ajuda militar mútua foi o de Westminster de 1373 (chamam-lhe de Londres na Wikipédia? é porque lá o português português é difícil de encontrar - deve ser mais raro do que páginas de bretão, luxemburguês ou asturiano).
Prefere-se evocar Windsor a Westminster, porque aquele foi com D. João I e este com o irmão antecessor D. Fernando I? Realmente, Fernando tem "má imprensa", desde o tempo de Fernão Lopes, que lhe exaltou as falhas. Mas sem as muralhas fernandinas não teria havido resistência do Mestre de Avis. E ainda houve a Bolsa de mercadores, a Lei das Sesmarias, o reforço da Marinha, mas o Formoso escolheu mal as companhias e ainda hoje é mal visto. Foi despachado.
Nas guerras fernandinas, os ingleses serviram mais para pilhar o Alentejo; já no reinado de D. João I foram importantes nas batalhas⚔️ , principalmente, na de Aljubarrota. Mas falar em exército luso-inglês já parece exagerado.
Naquele tempo houve algum entendimento, e perdurou pelo século XV inicial, pois ingleses e portugueses ajudavam-se contra franceses e castelhanos (mas nem sempre... foi mais complicado). E isto porque se firmou a aliança familiar entre o duque de Lancaster, que tinha pretensões ao trono de Castela, e D. João I, que casou com a sua filha Filipa.
- Ah! Para que estou a escrever sobre isto, que vai fazer rever a História toda?! Mas é que os tempos foram mudando, o que chegou até nós não foi só "abraços", com aquele pequenino "arrufo" do Ultimato. Foi mais um rol de patifarias que se pretende ser uma amizade constante.
Logo vejo se escrevo mais.
30.03.25
Uma forma de nos conhecermos é como os outros olham para nós, ou melhor, como se pensa que que os outros nos pensam. Mas quem tem necessidade de atenção, nem concebe a vida sem a opinião alheia e sofre de deficiente amor-próprio.
Um dos mitos em Portugal é que temos uma aliança imorredoura com Inglaterra, que são nossos amigos e com quem poderemos sempre contar. A treta do tratado anglo-portuguēs, como o mais antigo do mundo, faz parte dos dogmas da terra, e qualquer português de educação média já ouviu falar. Pelo seu lado, os ingleses estão a borrifar-se para nós e, salvo alguns académicos ou curiosos nem sabem que isso existe. Se é que existe.
(e continuo depois, porque só tenho isto começado para que não passe outro mês)
21.03.25
A minha herança oureense vem do lado paterno, raíz avoenga das terras de Ourém, e desde sempre me reconheço como um neto seu.
Do alto do seu castelo pode ver-se as províncias vizinhas, das serras e montes a norte e leste, às planícies e vales de oeste e sul. E, ainda, pode imaginar-se a sua história, muito tocada pelo seu Senhor mais marcante: o 4º conde de Ourém, Dom Afonso de Portugal, neto primogénito de D. João I e D. Nuno Álvares Pereira.
Este eminente e intrigante personagem (um perfeito "vilão"?), foi dominante na corte, em meados do século XV. Reformou a sua vila, construiu a Sé Colegiada, o Solar, onde morou, e a fonte gótica, etc.
Trouxe, por onde andou, muitas influências e informações para o nosso país, determinando artes e arquitectura, mais do que se conhece.
Como enviado diplomático e embaixador, fez grandes viagens (c. 1429 a Flandres e Alemanha; c. 1432 Aragão; 1436-37 pela Península Ibérica, Península Itálica, Alpes, Renânia; Terra Santa, etc. ; 1451-52 a Itália) e, de regresso, edificou o seu poder.
Estes eram temas do mestrado suspenso (pelos ditames de Bolonha, terei três - Coimbra, Porto, Algarve - à distância de entraves burocráticos) e são bocados de investigação ainda a publicar.
Como o saber não deve ficar escondido tempo de mais, e porque tinha páginas "web" inactivas, com imagens abertas há muitos dias, resolvi reproduzi-las aqui, antes de as remover
A nossa história é mal conhecida e, apesar de avanços, há ideias feitas e pobres que se repetem há décadas ou séculos. Sobre as construções do conde de Ourém ainda se repetem os lugares-comuns de exclusivas influências italianas e moçárabes e magrebinas, esquecendo a importância doutros locais até mais visitados.
Vejamos estes exemplos, com origem na Suíça alemã, à beira-Reno.
Spalentor, Basileia, Suíça: o conde de Ourém esteve várias semanas na cidade, como embaixador ao Concílio da Igreja, em 1437. Esta era uma das portas do burgo.
Castelo de Porto de Mós: era propriedade do 4º conde de Ourém, que aqui fez obras palacianas, provavelmente, mais tardias que as de Ourém.
Relicário do conde de Ourém, MNAA: o conde juntou muitas relíquias das suas viagens e contactos. Este relicário é como um mini palácio, semelhante aos que viu e construiu, com umas torres idênticas.
Cadeirão da Colegiada de St.º Estêvão, Valença do Minho: durante a sua carreira activa foi mais conhecido por 4º conde de Ourém, mas D. Afonso, nos seus anos finais (desde 1451), foi também marquês de Valença, e assim deveria ser chamado. Ele nunca esteve lá, mas possivelmente, entre receber os proventos da alfândega e mais rendas, também pode ter oferecido tesouros à terra, como parece ser este cadeirão, com a mesma linguagem do gótico internacional, nomeadamente, o renano, como nos exemplos anteriores.
19.03.25
Pelos olhos dos nossos filhos conhecemo-nos melhor. É uma verdade que não tem medida nem recurso.
Este ano já não posso chamar o meu. Já não posso partilhar essa verdade com ele. Só, somente resta lembrança e saudade.
Mas eu tenho confiança, pois, quando um homem é chamado pai, não há mundo nem tempo a temer.
10.03.25
Este texto vem com missão para lamentar a língua portuguesa que se vai ouvindo por aí.
Lá no final do século XX, a TV cabo foi mostrando outras realidades do mundo. Dos canais em português que eu via, gostava do CanalBrasil, com filmes antigos, alguns a preto e branco, onde se podia reconhecer uma língua portuguesa muito mais coesa, coisa de há 80 anos, em ambos os lados do Atlântico; e do canal GNT, a Globo em digest internacional. Neste canal, podia saber-se da actividade política e da actualidade social brasileiras, para além das fantasias telenovelescas.
Quando se falava lá, do senado e do congresso, ouvia muito a sigla C.P.I. para aqui, C.P.I. para ali. Não foi difícil perceber, comparando com a realidade portuguesa, de que se trataria de uma "comissão parlamentar de inquérito", equivalente em Portugal à "comissão de inquérito (parlamentar ou da Assembleia)".
Era com agrado que reconhecia a minha língua num país distante, nas suas variantes, mas facilmente (mutuamente?) entendíveis. E o exemplo citado ficou-me na memória, sempre comparando com as expressões políticas em Portugal.
Não pode ser sem horror que, de um momento para o outro, se começa a ouvir, para aqui e para ali, falar em CPI's no nosso país, reforçadamente, nestes últimos dias.
Em Portugal sempre se disse "comissão de inquérito" tout court, ou juntando "parlamentar" (é questão de uma pesquisa na hemeroteca...) ou "da Assembleia", pois o que é "parlamentar", adjectivo relativo ao Parlamento, é o inquérito, para o qual se cria uma comissão. Obviamente que é inerente à comissão ser parlamentar, mas o que está no centro da questão é o Inquérito! da Assembleia da República ou Parlamento.
Este neologismo, recentemente imposto, é escusado e completamente deslocado, pois, por mais que seja interessante saber como se designam as coisas no Brasil, não é por isso norma estabelecida falar-se à brasileira.
Quando oiço "CPI", vem logo à ideia "Mensalão", "lava-jacto", "pcc" e outras siglas espúrias que se vão introduzindo no nosso país, como se duma nova realidade se tratasse. Até siglas importamos.
Quem toma conta da língua nos meios de comunicação social? Não são os jornalistas responsáveis pelo que se comunica, e dos mais velhos se passa aos mais novos? Será que foi de dentro da Assembleia que se começou esta designação nova? Mas a democracia parlamentar não começou há 5 anos, para se mudar o nome de algo que sempre existiu. Mesmo na Assembleia Nacional de antanho, e no Parlamento republicano, e nas Cortes da Monarquia Constitucional, e nas Cortes medievais, sempre houve designações, procedimentos, regimentos próprios. Com estas pequenas coisas parece que Portugal e a sua língua já não são suficientes.
Se se queria encurtar o termo e "modernizar", respeitava-se a tradição e veiculava-se a sigla C.I.P. (comissão de inquérito parlamentar), sem confusão com CIP (confederação industrial portuguesa).
A mim incomoda-me, e parece-me mais um sinal decadentista do país sem amor-próprio, por todos os meios a negar a sua história, a sua especificidade, a sua existência.
[Veja-se as designações na legislação de 1993 "Sobre Inquéritos Parlamentares"]:
[Posso estar aqui a refilar sem razão nem conhecimento de causa, mas sei bem que há 25 anos não se ouvia "cê-pê-is", nem há 10 nem 5. Ou eu ouvia mal...]
09.03.25
Um homem em sofrimento, uma comunidade em suspenso. As notícias sobre a saúde Papa angustiam qualquer pessoa sensível.
Faço um desvio aos textos que tenho pensados, para questionar, não a pessoa, mas a percepção sobre ela, que quase se tornou um lugar-comum. Será que Francisco se inspirou e segue S. Francisco de Assis e o franciscanismo, como parece ser a opinião generalizada? Não cotejei os seus textos nem afirmações para o confirmar ou refutar, baseio-me no que fui ouvindo de terceiros. Mas pergunto-me se o papa Francisco, que é jesuíta e não franciscano, não terá tanto ou mais em conta os santos jesuítas que possam ter inspirado a escolha do nome? Isto é: S. Francisco Borja e S. Francisco Xavier.
São Francisco Borja foi dos primeiros padres da Companhia de Jesus, amigo de Santo Inácio de Loiola. Era de alta origem nobre valenciana, fora Duque de Gandia, Vice-rei da Catalunha, parente de Papas, e foi um impulsionador da sociedade (seu 3º Superior Geral) que teria grande peso na evangelização no Novo Mundo e no Oriente, no período da Expansão de Espanha e Portugal no século XVI. É também o caso de São Francisco Xavier, de origem aristocrática navarra, que seguiu para a Ásia onde estavam os portugueses (Moçambique, Índia, Indonésia, China, Japão), ficando conhecido pelo Apóstolo do Oriente.
O jesuíta argentino Bergoglio, como primeiro sumo-pontífice americano, deve ter muito conhecimento e apreço pelo papel destes ilustres santos hispânicos que lhe deram o nome e o precederam na missão e presença do cristianismo católico em todas as partes do Mundo.
Quis expressar esta lacuna na compreensão da figura do Papa, e quero expressar o respeito pela dignidade e a esperança do melhor perante o momento crítico actual.
11.02.25
Uma longa pausa nas teorias tam-tam deveu-se a vários factores.
Só preciso de um motivo para retomar a escrita ou continuarei a adiar, adiar, adiar ...
O que está não vai melhorar, ou sendo mais neutral, não vai reverter.
Passam os tempos, passam as gerações, passam as gentes. Mas não deveria, em democracia, haver uma evolução natural, orgânica, respeitando as vontades e velocidades, em vez de algo que é forçado e sem escrutínio?
Há tantas "actualizações" em vigor que não há acções consentâneas nem consequentes com o que se quer, o que se diz, o que se decide. É uma ilusão que haja uma realidade proveniente de liberdade de pensar e agir; que se esteja num processo de desenvolvimento sustentado.
"Mudam-se os tempos mudam-se as vontades, muda-se o ser muda-se a confiança". Camões no seu tempo foi preciso no entendimento do processo inexorável que Portugal e o Mundo descoberto sofreram no século XVI.
Quinhentos anos passados, com tantas diferenças de permeio, parece haver um sentimento de que o choque e a alteração radical sobre a identidade e cultura serão profundos.
O que sobrará da herança civilizacional portuguesa com tanto senão? Aculturação, desertificação, polarização, guetização, gentrificação, descaracterização, desresponsabilização, mercandização, e por aí fora, o que fica da nação? O que se poderá legar aos vindouros que seja genuíno e são.
Não há respostas, nem há medidas que não resvalem em confrontos irremediáveis de esquerda e direita de baixo(s) interesse(s). O que vou apontar é alguns aspectos do que se pode ter como marcos da personalidade e composição do povo português (evitando 'clichés' do que se procura identificar como 'portuguesismo', 'portugalidade', 'portuguesia', 'portuqueopartiu').
Será para os próximos.
11.01.25
Continuando a apreciação da letra da canção Ripples (Rutherford/Banks), faço uma leitura geral e prévia do título e do contexto. Isto pode não ter nada a ver com o que autor pensou, mas vou expressar a minha opinião: segundo se diz, a ondulação que dá nome à faixa representaria os anos de juventude que passam e não voltam; mas o passar dos anos é uma coisa que ocorre naturalmente e essas ondinhas costumam formar-se por um impacte, algum fenómeno que perturba a placidez da água e desfaz o reflexo, num movimento centrífugo. [Ondas de choque.] É o que me sugere o afastamento irreversível do cantor e do grupo, e vice-versa, quando aquele decide sair. Do muito que se lê sobre as relações e choques dentro do grupo, vem sempre à baila a personalidade dominante e áspera de Tony Banks (um explosivo carneiro), cuja assertividade e criatividade cobre a maior parte da obra genesiana. Mas a personalidade mais discreta e até contida de Mike Rutherford teve, diria, o mesmo peso durante todo percurso da banda. Procurando harmonizar as sensibilidades e contributos de todos, (este diplomático balança) pode ter acusado mais as quebras na formação: assim foi com o seu amigo e primeiro colaborador Ant Philips, e depois com os abandonos de Gabriel e depois de Hackett, que lhe deram amargas desilusões. Menos expressivo que Tony, Mike faz as suas críticas em mensagens crípticas ou nos silêncios (vejam-se os documentários, acessíveis no YouTube, por exemplo). Já agora, apesar de quem se incomoda com referências astrológicas, completo a leitura com a referência aos três cerebrais e independentes aquarianos: dois foram à sua vida, fazerem só o que queriam, o terceiro que ficou, passou de observar atrás dos tambores para se tornar a nova cara do grupo que acabou por seguir as suas pancadas (hits, em inglês, e nas peles).
Vamos lá à letra da canção, com comentários adjacentes:
"Bluegirls come in every size
Some are wise and some otherwise
They have pretty blue eyes"
- As "blue girls" podem significar raparigas de uniforme azul de colégio interno, uma referência velada aos rapazes de Charterhouse, onde andaram os membros de Genesis. Todas (todos) são diferentes, cada uma de seu tamanho (logo aqui uma auto-referência cómica e depreciativa que Mike faz da sua grande altura e certo deslocamento). Mas umas são sábias, e outras valem-se dos seus atributos físicos. Ou seja, os membros que tocam e que ficaram, são sensatos e trabalhadores, enquanto a estrela Gabriel, de (verdadeiros) olhos azuis, só tem de brilhar - este foi um desconforto do grupo, vistos como meros acompanhantes do cantor, o que culminará na separação.
"For an hour a man may change
For an hour her face looks strange
Looks strange, looks strange"
- Uma das queixas para o afastamento eram as actuações teatrais e o uso e trocas de guarda-roupa extravagante de Peter Gabriel, deixando a música em segundo plano. Durante uma hora (de concerto) o homem muda de roupa e a sua cara fica estranha (de pintura e máscaras), e isto repete-se e repete-se.
"Moving to the promised land
Where the honey flows and take you by the hand
Pulls you down on your knees"
- A terra prometida para onde marchou a "bluegirl" pode ser a América do Norte, quando largou o grupo, e os deixou de "joelhos", à espera do seu regresso para completar o disco "The Lamb..."
"While you're down a pool appears
The face in the water looks up
And she shakes her head as if to say
This is the last time you look like today"
- Estes versos fazer-me lembrar passagens de "Lamia", que surge da "pool", fazendo "ripples", e que já mencionei como possivelmente inspirada nos conflitos dentro do grupo.
[E ao que vem a "pool"? Havia uma "pool"/secção a compor, e outra a escrever]
A marcha referida para a América pode também já ser durante a digressão quando Gabriel anuncia em reunião que vai deixar o grupo. Recusa reconsiderar, (abana a cabeça) significando que o grupo nunca mais vai parecer igual.
"Sail away away
Ripples never come back
Gone to the other side
Sail away away"
- No refrão está um sinal - que poderia ter apontado na leitura prévia - de que o sentido da canção sobre o passar de anos parece difícil de aceitar. "Sail away", navegar, velejar, partir, parecem-me difíceis sinónimos de envelhecimento ou decadência - ou de ter algo a ver com ver-se na imagem reflectida - mas sim de uma viagem para outro lado, duma largada do passado. O que serão as ondulações que não voltam? O passado? O elemento que saiu ou os outros que seguiram viagem e já não estão em baixo, nem vão desistir? Solte-se as velas e saia-se para fora, pois as ondinhas ficam para trás.
"The face that launched a thousand ships
Is sinking fast, that happens, you know?
The water gets below
Seems not very long ago
Lovelier she was than any that I know"
- Digamos que este trecho é menos compreensível: a face que lançou mil navios... a cara que deu voz a tantas canções? Está a afundar-se, a meter água ... errou e caiu de importância, quando há pouco tempo era dos artistas mais relevantes e amados?
"Angels never know it's time
To close the book and gracefully decline
The song as found a tale
My, what a jealous pool is she"
- A letra, na minha interpretação, faz um apanhado do processo que levou à saída do cantor, o que se agudiza durante a feitura de "The Lamb": o Anjo Gabriel, como é comummente etiquetado, não se digna a descer à terra e a entregar as letras que deve para comporem e ensaiarem; a música, as melodias já existem e é a partir delas que se vai contar a história, que Peter tanto quis reservar para si, mas que demora. Oh! que cioso ele é do que vai contar/cantar. Aqui lembro que Mike propôs um conceito para o disco, mas que foi derrotado pelo conceito de Peter. Para os membros que foram arredados de escrever letras, quando já o faziam há cerca de sete anos, isso criou alguma frustração, mas nada diz que as não escrevessem para outros temas, ao mesmo tempo, e que estes estariam logo prontos, a seguir, como este.
"The face on the water looks up
And she shakes her head as if to say
That the bluegirls have all gone away"
- Esta passagem para o refrão, repete dois versos. Então e agora, a cara metida na água olha para cima, e seria o cantor metido no seu mundo pessoal, ou até uma referência ao fim dos concertos, com ele desmaquilhando-se ou desmascarando-se do visual estranho [a velha da capa, afinal, era ele...?], acercando-se da realidade dos outros. Agora não era ele que dizia não, mas que já lamentava que "as outras bluegirls" o tinham deixado.
Depois repete o refrão, acrescentando:
"Dive to the bottom and go to the top
To see where they have gone
Oh, They've gone to the other side"
- Continua o repto: para perceber o que aconteceu às"bluegirls", é mergulhar e voltar a subir, porque foi o que aconteceu ao grupo, esteve no fundo mas já está no topo a compor, a gravar e a editar. Viraram a página.
Depois vem um interlúdio instrumental com uma guitarra sublime de Hackett (que faz meia música sem merecer crédito), e eu aproveito para lançar umas pistas:
Não sei se já tinha lido ou era minha imaginação, mas vendo agora umas coisas associadas, não parece que estivesse errado sobre o que poderia ser um outro significado de "ripples". "Ripple", ondinha, seria uma forma de "dimple", covinha da face, aquelas rugas da bochechas de algumas pessoas quando se riem, e podem dar charme, carisma, beleza. É o que tem o sorriso de P. Gabriel, "charmeur". Poderia ser uma forma sarcástica de o nomear? O covinhas já não volta!...
"Dimples" é também o nome dum filme de 1934, e a alcunha da protagonista, por Shirley Temple, uma menina que dança nas ruas de Nova Iorque, com o seu bonezinho azul. Temple é também um símbolo de talento precoce, mas que se vai retirando do "show Biz" quando adulta, ficando aquém do que era. Será uma especulação demasiado longa ver uma conotação com uma crítica verrinosa a Gabriel? Ele teria que fazer mais do que "sapateado" e do que mascarar-se (de bluegirl). E, afinal, teve que fazer mais, sim...
cheek dimples /cheek ripples
.
[. Volta o refrão...
No fundo, "the face" é o sujeito da canção. "Ripples" é o seu epíteto, mas não é ondinhas como rugas de velhice, ou então dir-se-ia "never go back", elas não vão embora, mas, pelo contrário, elas não voltam mais, "never come back". É um grito de partida, de nostalgia perene.
E aqui, Collins canta-a para sempre.
Rutherford, sempre envergonhado, deixa o seu melhor para o fim, com uma variação de baixo, mas já em "fade out". Irá fazer isso continuamente quando for o único guitarrista, só fazendo solos quando a música se esvai - e mesmo a solo, deixará de cantar, por não gostar da sua voz, que é uma voz boa, normal.
Mas é assim que as coisas são, e assim que foram. Não há lamento que as façam mudar. Foram para o outro lado e resta-nos lembrar o bom que tivemos.]
G.M.R.
10.01.25
Esta "teoria", juntamente com a anterior aqui deixada, já tem uns anos, e já tinha escrito uns esboços (até em inglês!...) e, por isso, pode ser que não me lembre de tudo o que analisei. Mas vou escrever o suficiente para me explicar.
A canção "Ripples" do álbum "A Trick of the Tail" (1975) tem o significado aceite e difundido de que trata do passar do tempo, e como uma velha, olhando-se ao espelho, se recorda do seu tempo de juventude que não volta (um desenho respectivo está na capa do disco). Há até um poema que terá inspirado a canção, com elementos presentes na letra.
Não digo que não. Até poderia ficar por aqui, mas creio que pode ter vários níveis de significado e interpretação que escondem uma mensagem relacionada com o que foi dito: o impacte da saída de Peter Gabriel do grupo.
Até uma exegese do disco pode encontrar várias possibilidades em várias músicas do, agora, quarteto de rock progressivo, como, por exemplo, "Mad man moon", ou a canção-título do álbum (ambas de Tony Banks). Mas eu não vou por aí, somente vou analisar a letra de Ripples (letra escrita por Mike Rutherford) e interpretar à luz desta hipótese, porque me parece razoável.
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